05 May
05May

Então… eu quarentei.
E o tempo passou de um jeito que eu nem percebi.
Estava distraída demais, sentindo, vivendo, escrevendo uma história que sempre escapa um pouco da definição.
Como um quebra-cabeça que nunca termina, porque novas peças continuam surgindo com o tempo, ampliando meu campo de visão.
Minha relação com o tempo sempre foi assim: uma curiosidade latente pelo momento seguinte, misturada com uma angústia leve por não saber o que vem. Mas também uma alegria genuína de estar aqui, inteira, presente, fazendo parte do processo.
Das coisas passadas, não carrego arrependimentos profundos. Só uma saudade suave das versões de mim que não vi nascer.
Versões que talvez existam em algum universo paralelo e, que desejo, sincera e ardentemente, que estejam vivas por lá. Eu quis e ainda quero ser muitas.
Talvez por isso eu escreva.
Pra criar novos finais.
Novas formas de falar, de viver, de ser.
Minhas respostas quase nunca são únicas.
São ramificações, nuances, às vezes até contradições. Porque eu considero os diferentes pontos de vista que habitam em mim, mesmo sabendo que ainda há pontos cegos.
Mas eu gosto da passagem do tempo.
Aos 14, eu imaginava como seria me encontrar comigo mesma aos 35.Hoje, aos 40, me encontro. Me admiro. Me gosto. E, mais que tudo, me amo.
Me amo de um jeito que transborda.
Amo ter meus filhos. Amo minha casa. Amo ser psicóloga.
Amo, profundamente, ter construído meu caminho com as próprias mãos.
Amo ter escolhido o que escolhi e também tudo o que a vida me trouxe sem que eu escolhesse.
Amo estar onde estou.
E amo, com gratidão e presença, cada pessoa que cruzou meu caminho.
Porque eu estive inteira com cada uma delas. E sou outra por ter vivido cada encontro.
Alguns ainda reverberam em mim.
Nos sentimentos, nas ações, nos pensamentos.
O bonito de encerrar um ciclo é que o próximo já nasce cheio de esperanças, algumas certezas e uns desafios que, com coragem, eu me entrego.
Hoje, faço 40, com um olhar suave sobre mim, uma aceitação do que fui, sou e serei.
Aberta e inteira para quem quiser ficar, inteiro também, na minha vida.
Entendi que sou casa, que sou chão firme, que sou um domingo de sol, com cheiro de café, crianças rindo e cachorro brincando pela casa...Eu sou lar.
O amor que há em mim, de tudo que eu construí até aqui, é raiz sólida.
O amor que eu construí é lar.
E pode ser abrigo, segurança e calma para quem quiser ficar, estar e voltar.

Comments
* The email will not be published on the website.