Eles não tinham combinado nada. Foi acaso, ou destino, que fez com que se esbarrassem de novo. Ele se aproximou com aquele jeito calmo, quase distraído, como quem não carrega peso algum. A conversa começou leve, despretensiosa, como se os meses que os separaram tivessem sido apenas um intervalo sem importância.
Ela riu das primeiras palavras, comentou do clima, das coisas banais que preenchem o vazio. Mas o riso era breve, quase ensaiado. O coração batia apressado, pedindo espaço para dizer o que não tinha sido dito.
- Eu tive medo de falar, sabe? Ela começou, os olhos firmes, mesmo que a voz saísse baixa. - E com razão. Quando finalmente falei, você se despediu… de um jeito que me magoou. Foi como um corte rápido.
Ele a olhou, surpreso, mas não interrompeu.
— Eu disse pra mim mesma que estava tudo bem… ela respirou fundo. — Mas não estava. Nunca esteve.
Um silêncio se estendeu entre eles. Ele parecia procurar palavras, mas nada vinha. Ela, por outro lado, sentia que não podia mais recuar.
— Eu precisei me proteger de mim mesma, daquilo que eu sentia. Fingir que não doía foi a única forma que encontrei pra continuar. Mas agora que você está aqui, acho que preciso que você saiba disso. Preciso que você saiba o que aconteceu comigo quando você foi embora.
O silêncio pareceu se alongar, como se o tempo tivesse parado só para testar sua coragem. Ela esperava uma defesa, uma desculpa, qualquer coisa que desse nome ao que viveram.
Ele respirou fundo, desviou o olhar por um instante, e depois voltou a encará-la.
— Eu não sabia… disse devagar. — Não imaginei que tivesse sido assim pra você.
As palavras soaram honestas, mas também vagas. Ele não dizia “sinto muito”, não dizia “me arrependo”. Apenas deixava no ar uma sombra de reconhecimento, sem se comprometer com nada além disso.
Ela percebeu. E ainda assim, parte dela se acalmou. Finalmente tinha falado.
Ele, por sua vez, parecia querer dizer mais, mas se perdeu num meio sorriso, meio tímido, como quem escolhe deixar o resto guardado.
— A vida seguiu, né? completou, num tom leve demais para a gravidade do que tinham acabado de compartilhar.
Ela sorriu de volta, mas um sorriso diferente. Não de quem finge que está tudo bem, mas de quem compreendeu que talvez nunca fosse ouvir exatamente o que gostaria.