Li recentemente algo que Freud disse (a psicanálise conquistando meu coração mole) sobre a gente sempre buscar reparar (resolver) as questões antigas... Somado a isso, me pegou de jeito um trecho da biografia da Viola Davis, onde ela relata a pergunta que o Will Smith fez a ela: "quem é Viola?" Ela sem entender pediu para que ele explicasse. Ele disse que era o garoto de 15 anos que havia levado um fora da menina que gostava. Ela por sua vez, ao entender, respondeu que era a menina assustada e com medo dos meninos que a odiavam, que diziam que ela era feia, uma menina negra.
Estamos sempre atualizando nossas versões, mas sempre com uma dor antiga. Aquela ferida que não sara, até que seja tratada com carinho. Até que seja reparada com cuidado. Até que a gente perceba que não precisamos mais ficar abrindo a ferida o tempo todo. Que podemos conviver, enfim, apenas com a cicatriz.
Como na música do U2, nós ficamos "presos em um momento". E nossa vida fica girando em torno daquilo. O abandono não verbalizado. A necessidade de provar a todo custo nosso merecimento de amor. A validação que queríamos e não veio. A vergonha que sentimentos diante de algo que fizemos.
A falta cria buracos que tentamos preencher pelo caminho. Sempre de um jeito paliativo.
E, talvez, o ponto não seja apagar a ferida ou fingir que ela nunca existiu, mas perceber que podemos olhar para ela com carinho. Nomeá-la, acolhê-la, abraçá-la como parte de nós. Só assim, a dor deixa de nos prender e podemos finalmente caminhar para outras vivências, sem a necessidade de girar em círculos, mas vivendo com a liberdade de quem reconhece suas cicatrizes e ainda assim se permite seguir em frente.