O céu estava da cor que ela gostava, uma mistura interessante de lilás, rosa e laranja... daquele jeito que anuncia o fim. Só não sabia se era da tarde, da luz ou de algo que não volta mais, mesmo que tenha esperança.
Ela estava sentada no sofá velho da sala, as pernas encolhidas como quem tenta caber dentro de si. A casa inteira parecia suspensa, parada, cúmplice daquele momento em que tudo emudece, menos o que se sente.
Não era um choro escandaloso. Era um choro pequeno, baixo, mas inteiro. Profundo.
Um soluço contido que parecia vir de um lugar muito antigo, mesmo que a dor fosse nova. Era nova. Porque, diferente de antes, não era sobre uma ausência visível e concreta. Não era sobre mensagens não respondidas.
Era sobre uma certeza. Ela tinha, enfim, compreendido: ele não ia voltar. Não era uma pausa, nem um orgulho disfarçado de distância. Era o fim. Real, sem poesia.
E foi quando entendeu que o hiato, não era o tempo de espera, era o tempo que precisava pra entender tudo o que ele já havia dito com palavras e ações. E doeu mais. Ela desejou não saber. Porque antes, enquanto havia a dúvida, ela dançava com a esperança e agora só restava ela e sala vazia ecoando seu grito silencioso. Havia a consciência brutal de que esperava por alguém que já tinha partido de vez.
O choro escorreu sem pedir alívio, só espaço... E ela chorou. Não para que a dor passasse, mas para reconhecer o que tinha sido: algo que só ela quis. Uma espera que não merecia mais se arrastar.