30 Aug
30Aug

Nos aproximar de outra pessoa é um mergulho profundo: podemos nos perder, nos transformar ou nos redescobrir. O risco maior não é externo, mas interno. Perceber, entre as palavras e gestos do outro, aquilo que sempre esteve em nós.

Na psicologia, sabemos que relacionamentos e vínculos são espelhos poderosos. Ao olhar profundamente para o outro, tocamos não apenas suas dores e fragilidades, mas também as nossas. E é dessa vontade genuína, do olhar sincero, para esse mergulho cuidadoso e corajoso, que nasceu o meu texto. É um convite a sentir, a perceber e a se permitir atravessar o desconhecido do outro.

É um gesto de coragem, porque não há garantias. Podemos encontrar dor, caos, desordem... Às vezes, fins abruptos, retornos tortos, silêncios longos demais, ausências doloridas, presenças intermitentes. Mas, com sorte, nesse encontro genuíno, na intimidade do olhar e na partilha das emoções, pode surgir algo transformador, se ambos se permitirem: a possibilidade de cura. Dores que se abraçam, se cuidam, se curam.

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O oceano é profundo,

Embora a gente só molhe os pés nas beiradas.

Vejo o verde escuro

E quero mergulhar.

O profundo me atrai,

Ainda que também me dê medo.

É lá no fundo que quero encontrar

Tesouros escondidos,

Entre destroços,

A beleza do inusitado,

No caos,

No risco iminente de me afogar.

E, sem ar, talvez seguir

Mais dentro,

Mais profundo 

Em você.

Quero misturar a minha dor a sua

E descobrir do verde 

a cor quando encontra o sol.

Mais fundo,

Dentro de você,

Tesouros em você,

No meio dos destroços

Do que fomos nós.

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