Nem todos os sentimentos bons que carregamos encontrarão abrigo no outro. Às vezes, o que nasce com gentileza, com vontade de cuidado e verdade, termina envolto em silêncio, distanciamento ou até dureza. Não porque faltou amor em nós, mas porque nem todo mundo está pronto para tratá-lo com a delicadeza que ele merece.
Aceitar o fim, quando ainda havia tanto dentro da gente, é um dos gestos mais corajosos que se pode fazer. Ainda mais quando escolhemos não revidar com mágoa, mas seguir com gentileza. Não por fraqueza, mas por maturidade. Porque aprendemos que o que o outro não soube acolher, a gente pode, aos poucos, cuidar em nós.
Esse poema é um acerto de contas silencioso com tudo o que foi sentido, oferecido e, ainda assim, devolvido com indiferença. É também uma carta de despedida suave, não ao sentimento, mas à ilusão de que ele poderia florescer onde não havia terreno fértil.
......
eu fui a mulher que atravessou silêncios
tentando decifrar sinais.
fui a que ficou no meio do furacão,
enfrentando a tua indecisão
ou o que eu achava que era.
fui a que quis mais do que foi dado.
a que enxergou demais
onde não havia quase nada.
eu fui a mulher que gostou do que houve
e quis mais.
fui a que não desistiu só porque doeu,
a que quis entender,
a que buscou um lugar
onde você não machucasse
pra poder te manter perto,
com aquilo de bom que havia em você.
fui a que manteve o silêncio
enquanto gritava por dentro.
a que sentiu demais
e encontrou só indiferença.
fui a que saiu ferida
do que construiu com tanto cuidado
em torno de você.
fui a que não correu,
mesmo quando a dor mandava fugir.
eu fui a que terminou
com palavras gentis,
que aceitou tua raiva
com ternura
no fim que você deu
ao que ainda vivia em mim.