Ela senta no sofá, tarde da noite. Tentou dormiu e o sono não veio. O olhar perdido na penumbra que preenche o cômodo. O silêncio pesa, mas não é vazio... é cheio de memórias que dançam em sua mente. Ela respira fundo, ajeita a manta sobre as pernas, e começa a falar para ninguém...ou para o fantasma de alguém que permanece ocupando espaços.
— Se você quiser voltar, eu te ajudo...
A voz sai baixa, quase um sussurro, como se temesse quebrar o feitiço daquela ausência.
— Não é promessa, sabe? É só um convite. Um convite feito com calma, daquelas coisas que não apressam o tempo... mas que deixam a porta entreaberta. Esperando. Esperando o que vier. Quando vier...
Ela desvia o olhar, segura as próprias mãos... na tentativa de não desabar demais.
— Eu te empresto meus ouvidos com carinho. Não pra julgar, não pra corrigir. Só pra escutar a sua versão da história. Aquela que você talvez tenha guardado só pra você, cheia de pausas, de silêncios... de medo.
Ela solta um suspiro e aperta os dedos contra o braço do sofá. As lágrimas surgem... porque é doloroso ter esperança.
— Dou espaço pra que o pedido de desculpas venha no seu tempo. Sem que seu orgulho se machuque no caminho. E se você quiser dizer que gostou de estar comigo... mas não soube continuar... eu recebo. Eu recebo, sem pressa.
A luz que entra pela janela desenha sombras no rosto dela, que se perde por um instante no passado e no que poderia ter sido. Em tudo o que não foi e foi só pra ela.
— Sei que vulnerabilidade é difícil, sabe? Por isso eu te deixo mudar de assunto quando for preciso. Porque falar demais do que a gente sente... é como andar na corda bamba...
Ela fecha os olhos, escutando o silêncio como se fosse música. Respira fundo. Desejando que ele, em algum lugar, pudesse adivinhar suas palavras...
— E eu? Eu vou cobrar com juros os beijos que a gente não deu nesse tempo. Os momentos que ficaram só como promessa, como sonhos meus...
Ela sorri, um sorriso triste, mas cheio de ternura.
— Mas não se assuste. Não vai ser tudo de uma vez. Vou fazer parcelado, devagarinho... pra que a dívida vire dádiva. Pra que o que ficou pra trás vire começo.
Ela se levanta, olha pela janela, a noite domina a rua, só a luz do poste aponta uma irreal possibilidade, mas ela diz, como se o vento pudesse levar palavras para outros lugares:
— Porque, no fim, o que importa é que, se você vier... venha disposto a se entregar de novo. Mas sem pressa. Que a gente possa, enfim, aprender a ficar.
Ela respira fundo, chora baixinho... E, no silêncio, fica esperando. Ele voltar ou essa dor aguda do que não aconteceu, finalmente, acabar.