17 Jun
17Jun

Eu tinha preparado uma introdução cuidadosa, dessas que a gente escreve mentalmente no caminho, ensaia no espelho retrovisor ou entre um gole de café e outro. 
Queria pedir desculpas, ele nem me deixou falar. 
Coisas pequenas: um gesto mal interpretado, um story que postei por engano, uma reação que talvez tenha ferido sem intenção. 
Mas ele atravessou. 
Com urgência. 
Como quem precisava se livrar de um peso que apertava o peito há dias. 
Como se a culpa, se não fosse dita logo, explodisse dentro.
Pediu desculpas por ter sumido. 
Falou rápido. 
Como quem tem medo de não conseguir continuar. 
E, principalmente, como quem quer limpar o próprio nome antes de escutar qualquer coisa que o lembre do que fez. 
Ali, naquele instante, ele me encantou mais uma vez. 
Por ser essa bagunça bonita de autoconsciência e fuga. 
Por ser esse emaranhado de sentimentos que não sabe se quer se desculpar ou desaparecer. 
Ele é assim: camadas. 
Camadas e camadas de defesas, dúvidas, silêncios e vontade de acertar. 
E eu sei organizar isso. 
Não porque eu ache que devo, mas porque é o meu modo de amar. 
É o meu jeito de cuidar. 
Se ele tivesse ficado… 
Se tivesse tido coragem de permanecer depois do pedido de desculpas... 
Talvez, eu o ajudasse a entender que o amor não exige confissões apressadas, mas presenças lentas. 
Talvez, eu o fizesse ver que ele não precisava me pedir perdão por não ser perfeito. 
No fundo (e aqui vai a minha parte no humor ácido do que fomos)
Ele teria sido um paciente excelente no consultório. 
Mas, como quase-alguma-coisa, foi só mais um caso de alta voluntária antes do tratamento começar.

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