16 Jul
16Jul

"I know that
Birds fly in different directions
I hope to see you again"

(Imagine Dragons – Birds)

Às vezes, não é o silêncio que mais machuca. É aquilo que foi dito no impulso, na raiva, no momento em que a dor fala mais alto do que a intenção. Palavras lançadas sem filtro, como forma de defesa ou ataque, mas que deixam marcas. E então nasce a dúvida: aquilo foi só um desabafo mal colocado ou uma verdade que, de alguma forma, sempre esteve ali, escondida, esperando a primeira brecha para sair? Esse texto nasce desse intervalo incômodo entre o que se fala e o que se sente, entre o desejo de compreender e a necessidade de se proteger. Entre o que foi dito… e o que ficou faltando dizer.
A espera por uma reparação que dê o lugar certo às palavras que feriram também é dolorida. Porque o tempo, às vezes, não traz a reparação. Traz apenas o vazio e a dor de perceber que aquilo que foi dito talvez tenha sido, sim, uma verdade. Uma verdade dura, sobre como o outro age, sente… e escolhe lidar com os próprios afetos.

.....

Embora quisesse acreditar que palavras são apenas palavras e que, na raiva, às vezes escapam só pra ferir, só pra tentar comunicar a dor de uma injustiça sentida. 
Ela também sabia... Sabia que palavras, quando usadas como armas, machucam de verdade. Mesmo as ditas no impulso, mesmo as que vêm carregadas de mágoas antigas, ainda que travestidas de defesa, também carregam pedaços de verdades.
Não a verdade inteira, mas aquela verdade crua que revela como as pessoas lidam com seus próprios abismos. Ela queria acreditar que o que ele disse, naquele dia, foi só um vacilo.
Uma frase solta daquelas que se arrependem depois, que não teriam sido ditas com a calma de quem pensa antes de ferir.
Mas... a ausência de qualquer reparação deixava uma dúvida em aberto. E se foi mesmo intencional?
E se ele quis, de fato, afastá-la de vez? Então, ela se recolheu.
Não como fuga, mas como cuidado. Silenciou.
Voltou pra rotina, pros dias cheios, pras crianças, pras pequenas alegrias e os pensamentos que insistiam em rondar. 
Contava com o tempo, embora nunca tivesse sido boa amiga dele. Sabia que ela faria seu trabalho: ou oferecendo o esquecimento… ou um retorno com reparação. 
Mas se houvesse volta, dessa vez, teria de ser diferente. Teria que ser honesto, vulnerável. Com conversa, com verdade, com o peito aberto. Porque já tinham vivido a versão que só machuca. E ela não estava mais disposta a passar por isso de novo. Mesmo que quisesse muito, não queria de qualquer forma. Dessa vez, só ficaria se ele soubesse o que quer. Se ele viesse por inteiro.

Comments
* The email will not be published on the website.