Existe em cada um de nós uma força pulsante que insiste em existir com verdade. Um movimento interno, às vezes silencioso, às vezes inquieto, que nos chama para viver de forma mais autêntica, mais inteira. Essa busca não é vaidade, nem egoísmo, é um processo profundo de encontro consigo. Na psicologia, esse processo é reconhecido como um caminho de individuação: tornar-se quem se é, para além das expectativas externas, das máscaras sociais e dos papéis que aprendemos a desempenhar.
Viver a própria verdade exige coragem, porque envolve desfazer-se de camadas. Algumas delas foram construídas por proteção; outras, por conveniência ou medo. Mas com o tempo, essas camadas pesam. E então, algo em nós começa a pedir por espaço. Pedir o seu nome verdadeiro, para ter descanso de performance, por relações em que se possa simplesmente ser.
Não se trata de perfeição, mas de presença. De aceitar os próprios limites, de reconhecer os desejos reais, de não se forçar a caber onde já não há pertencimento. É uma prática contínua, feita de pequenos gestos cotidianos como escolher com mais cuidado as palavras, dizer não sem culpa, permitir-se sentir sem julgamento. É também sobre acolher a si com gentileza, nos dias bons e nos dias em que ainda se está aprendendo a viver com mais verdade.
Esse texto que segue é um poema íntimo do meu desejo por uma vida despida de disfarces. Uma vontade de olhar para o mundo e para os outros com olhos mais limpos e, principalmente, de olhar para mim mesma com a ternura e a firmeza que só a verdade pode dar.
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Não quero a máscara já usada
por mim, por ninguém.
Quero o rosto limpo.
Quero ver o mundo como ele é:
com calma, com olhos inteiros.
Sem roupas apertadas,
sem o desconforto dos nomes bonitos.
Quero o nome real das coisas.
E de mim.
Quero vestir-me de mim mesma,
sem disfarce, sem defesa.
Quero ver os outros
confortáveis, em si mesmos.
Quero a naturalidade dos erros gentis,
dos acertos que brotam sem esforço.
Quero a verdade.
E quero ser, inteira, com isso.