21 Aug
21Aug

Muitas vezes, relações não terminam no momento em que deixam de existir, mas permanecem abertas dentro de nós, como capítulos inacabados. A ausência de fechamento (o famoso closure) pode ser tão dolorosa quanto a perda em si, porque mantém a mente ocupada com perguntas sem resposta: e se tivesse sido diferente? O que não foi dito? O que não chegou a existir?
Na psicologia, compreendemos que essa falta de conclusão mobiliza sentimentos ambíguos: desejo de seguir em frente, mas também necessidade de entender. É como tentar plantar em solo estéril, a intenção é genuína, mas o terreno não está pronto.
É nesse espaço entre o que senti e o que nunca pôde se realizar que nasceu o texto a seguir.
...............
- Talvez a gente só devesse deixar tudo isso pra trás. — disse ele, sem olhar pra ela.
- É… — falou ela, desatenta.
A conversa anterior parecia ter dado voltas sem chegar a lugar nenhum. Ela chegara sem entender nada e agora sabia ainda menos. Todo aquele blablabla soava como justificativas para discursos que ele mantinha consigo mesmo. As frases vazias protegiam ele da dor que a profundidade poderia causar. Mais fácil seguir em frente e deixar tudo pra trás.
Tudo isso o quê? — ela se perguntava internamente.
Aquilo que eles não viveram? Aquilo que não disseram? Aquilo que nem houve?
Ele era do tipo que deixava as coisas em aberto, sem nunca fechar. Por não saber, ou talvez por sempre querer voltar depois como se a distância e o silêncio não corroesse muita coisas no caminho. E voltar não significava viver algo. Era apenas estar ali, de uma forma que alimentasse sua autoestima. Bebendo do outro o amor que não oferecia. Voltar era só para verificar se ainda tinha algum domínio sobre ela e, claro, constatar seu próprio valor,  um valor que dependia do outro para existir.
No fim, ela saiu vazia. Aquilo que estava pronta para dizer se desfez no ar em minutos. Ela ouvia. E, enquanto ouvia, desistia. Eram apenas defesas que não ousaria ultrapassar. Ele não queria. Não estava pronto. Logo, na cabeça dela, não era ele. Não podia ser ele. Não um "ele" que se resumia a muralhas. 
Na volta para casa, sentiu um aperto estranho no peito. Doeu a impossibilidade. O terreno estava seco demais para a semente que queria plantar. Em casa, chorou um choro intenso, profundo de si, principalmente. Sem forças, dormiu, desejando não poder pensar. Desligou-se.
A ressaca emocional é pior que a do álcool. Havia um embotamento estranho, mas algo ela compreendeu: existia uma cisão entre o que sentia e a possibilidade de realização. Doía demais, de um jeito consciente e concreto.
Ele ficou para trás. No tempo e no espaço. Talvez tenha sido isso que ele quis dizer, afinal, com “talvez a gente só devesse deixar tudo isso pra trás”. Talvez se tratasse dele, daquele tipo de situação, daquele diálogo que nunca deveria ter existido… daquele momento em que ela percebeu que já pensava demais nele.

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