07 Aug
07Aug

Crescer tentando ser perfeita para receber amor, atenção ou simplesmente não ser rejeitada é uma experiência silenciosa e comum, especialmente entre meninas. Na tentativa de sermos aceitas, aprendemos cedo a suprimir emoções consideradas “feias”: raiva, tristeza, desejo. Muitas vezes, a própria subjetividade vai sendo engolida pelo desejo do outro.
Essa adaptação excessiva pode até ter nos protegido em alguns momentos, mas cobra um preço alto como o afastamento de quem realmente somos. Na psicologia, falamos sobre isso como uma desconexão do self, um afastamento das necessidades genuínas em nome da aceitação. 
Eu escrevi sobre esse percurso de retorno. Sobre deixar de agradar para, enfim, habitar a própria verdade mesmo que isso custe a aprovação alheia. Porque, no fim, ser amada por si mesma é um dos maiores atos de cura.
...............
Eu achava que precisava ser muito pra ser amada.
A melhor aluna.
A filha boazinha.
A que lia mais e melhor.
A que se comportava.
A que não gritava.
A que comia tudo, mesmo sem querer.
A verdade é que aprendi a me desconectar das minhas emoções.
Empurrei a raiva pro fundo.
A tristeza, também.
Fui parando de chorar.
De desejar.
De ser eu.
Fui me tornando um esboço estranho do desejo do outro.
Demorou anos pra recuperar uma identidade.
A minha identidade.
Pra sentir raiva sem culpa.
Pra dizer que estou cansada.
Pra respeitar meu ritmo.
Pra ouvir meu corpo dizendo "não".
Pra perceber que o desconforto era um aviso.
E eu ouvi.
Mais e melhor
A mim mesma, não o eco abafado da voz alheia
Talvez eu não seja mais tão amada assim
Mas hoje…sou mais verdadeira.
E mais amada por mim.

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