Há espaços dentro da gente que permanecem abertos.
Mesmo quando a vida acontece lá fora? entre filhos, trabalho, compromissos, certas ausências continuam morando num canto silencioso da alma.
São vínculos que não se encerraram com um ponto final, mas com reticências.
E, por mais que a gente siga, eles seguem com a gente.
Não por fraqueza, mas porque nem tudo que foi verdadeiro se apaga fácil.
Esse texto é sobre isso.
Sobre seguir...
E ainda assim lembrar.
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Ela trabalhava.
Cuidava da casa.
Cuidava dos filhos.
Estava às voltas com uma vida que a chamava para o presente o tempo todo.
Uma vida que dependia da sua atenção.
Mas nas pausas, naquelas em que ouvia música ou lia um livro, nas pausas em que as palavras viravam textos, não era possível negar o que havia.
Nas noites em que doía demais fingir que não doía, ela lembrava.
Lembrava de detalhes demais do que houve. E de detalhes do que não houve.
Sabia que seria impossível escrever algo exato sobre o que ficou suspenso.
Ficou esperando uma palavra suave depois das cruéis.
Esperou por um “desculpa, eu estava com raiva e falei merda.” Mas não houve.
Só ficou essa dor atravessando as coisas bonitas que ela tinha inventado sobre ele.
E a vida, é claro, seguia ali, acontecendo.
Com várias coisas boas que ela não podia mais compartilhar com ele, porque ele foi embora cedo demais.
Interrompeu os passos que ela queria dar junto.
Do jeito que era.
Do jeito que ele queria que fosse.
Mas ele não a quis ao lado.
E ela seguiu.
Só com a saudade.
Uma saudade que não passa.
Mesmo com a vida acontecendo.
Mesmo com o tempo passando.