08 Sep
08Sep

Há dores que não nos permitem permanecer no presente.

Quando alguém parte de forma abrupta, quando um vínculo é interrompido sem aviso, somos lançados, contra a nossa vontade, para um futuro que não escolhemos. Um futuro onde precisamos seguir, mesmo sem querer, enquanto o coração ainda pulsa no passado.

Na psicologia, chamamos isso de luto não autorizado. Aquele em que não houve despedida, explicação, nem espaço para elaborar a perda de forma natural. O sentimento fica sufocado, preso no corpo e nas lembranças. Não se trata apenas de perder a pessoa, mas de perder também a possibilidade de viver o amor até que ele se esgotasse por si mesmo.

Essa imposição de seguir adiante sem o ritual do fim gera uma dor peculiar. É como se estivéssemos condenados a caminhar para frente, enquanto partes de nós ainda gritam por viver aquilo que nunca teve chance de se concretizar por completo.

É desse lugar de inconclusão que nasce o poema a seguir: uma tentativa de dar voz ao que não pôde ser dito, e de transformar o não vivido em palavra.

.......

Sabe… eu nunca vou te perdoar.

Nunca.

Não vou te perdoar por ter me feito buscar outro alguém para amar.

Nunca vou te perdoar por me deixar imaginando tantos finais alternativos para nós dois.

Nunca vou te perdoar pelos beijos de boa-noite que não demos.

Nem pelo amor que não fizemos nas noites de sexta,

nas manhãs de sábado,

nas tardes de domingo.

Eu não consigo te perdoar por me fazer ver o tempo passar no calendário

sem você no meu portão.

Não vou te perdoar pelos tantos poemas que escrevi tentando tatear a dor.

Nunca vou te perdoar pelas músicas tristes que ouvi,

quando era para estarmos cantando juntos,

passeando por aí.

Eu não consigo te perdoar por me obrigar a tentar te esquecer.

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