26 Jun
26Jun

Tenho andado cansada do mundo.
Não esse cansaço que se resolve com uma noite de sono ou um feriado prolongado. Mas um cansaço mais fundo. De ter que provar, o tempo todo, que sou alguém. De falar bonito, vestir bonito, ser bonita... como se tudo em nós precisasse estar sempre em vitrine.
Tenho uma certa aversão ao marketing da vida. Uma angústia que às vezes me atravessa, porque fui aquela aluna em quem os professores apostavam alto. “Vai fazer medicina”, diziam. “Vai ser alguém importante na vida.” Mas eu não queria me tornar um produto de alta performance. Queria só viver com sentido.
Não gosto da ideia de vender o que, naturalmente, eu ofereço nas conversas mais simples. Se alguém me pede orientação, dou. Se alguém compartilha uma dor, ouço. Não vendo as coisas que li em livros e, pra ser sincera, meu sonho era ser paga pra continuar lendo. E escrevendo. E pensando. E cuidando.
Algumas pessoas dizem que sou inteligente. Mas o que faço é só costurar ideias, intuir conexões, deixar que elas façam sentido no tempo delas. A vida não cabe em teorias. E talvez, por isso, eu tenha escolhido um tipo de trabalho artesanal.
Sou psicóloga. Recebo famílias, crianças, adolescentes, adultos... e nenhuma história é igual à outra. Uso as ferramentas que aprendi, sim. Mas para cada pessoa, uso de um jeito diferente. Um jeito criativo, cuidadoso, atento. Isso não se coloca numa prateleira com um preço. Isso não se empacota.
Sigo rolando feeds, muitas vezes exausta, vendo fórmulas, métodos, promessas. Vejo pessoas vendendo sua maneira de fazer, suas certezas, suas respostas prontas. E tudo me soa tão engessado, tão cheio de evidência de algo que era pra ser único com impacto em que não vive aquela realidade.
Prefiro caminhar devagar. Aprender nos livros, nas trocas espontâneas, na escuta real, no contato genuíno com o outro. Aprender comigo mesma, a partir do que o outro me convoca a ser.
Talvez eu não ganhe muito com isso. Mas ganho algo que dinheiro nenhum compra: a tranquilidade de estar num caminho que tem a minha cara.
Não vendo certezas. Me permito mudar de ideia. Respeito a complexidade. E confio no processo.
Descobri meu jeito de fazer por mim mesma. E não o exponho como fórmula, porque ele é só meu. Me pertence. É confortável pra mim. É autoral, num mundo que insiste em cópias.
Meu potencial sempre foi esse: caminhar pela beira. E, na margem, sigo, com firmeza, com leveza, com sentido.

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