16 Jun
16Jun

Falar de luto é falar de amor.
Do amor que ficou, mesmo quando quem amávamos partiu.
É falar da ausência que dói, mas também da presença que se mantém em lembranças, em gestos, em silêncios.
Este espaço nasce para acolher aquilo que não tem nome fácil: as perdas que nos atravessam, os recomeços que nos exigem força mesmo quando não temos mais onde buscar. Porque o luto não tem fórmula, nem tempo certo. Ele é pessoal, íntimo, e se move dentro de nós com sua própria lógica, às vezes grita, às vezes cala, às vezes paralisa. Mas, ainda assim, é possível caminhar. Mesmo aos tropeços.
Porque há uma força silenciosa que resiste, mesmo na dor.
Uma chama de vida que persiste, mesmo quando tudo parece ter parado.
É sobre isso que vamos falar aqui: sobre os atravessamentos difíceis, as dores que nos moldam, os acolhimentos que oferecemos a nós mesmos quando tudo falta.
Sobre a coragem de continuar e a delicadeza de se reconstruir, aos poucos.
A seguir, uma história real como tantas: de perda, mas também de transformação. De um coração que parou… e outro que, mesmo ferido, escolheu continuar batendo.

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Ironicamente,o coração que era puro movimento parou.
Não porque quisesse assim, mas porque era inevitável.
Não existe hora marcada para a morte.
E ela chegou assim, no final da noite, depois do “boa noite” carinhoso, do colo que ofereceu às filhas.
Ele não pôde dar bom dia. Não houve café na manhã seguinte.
As lágrimas invadiram o dia (os dias), ano após ano, num luto difícil de nomear.
Morreu o pai. O marido. O filho. O amigo.
Tantos papéis que ele tinha e que ficaram vazios.
A reconstrução dela foi difícil, ensaiada, passo a passo, como quem aprende a caminhar de novo.
A dor consumiu o sorriso dela e o olhar morava no cinza.
Era difícil acolher o choro das filhas sem chorar também.
Difícil acolher a si mesma sem se despedaçar.
As lágrimas, silenciosas, escorriam lentas, lavando a dor, levando o medo de seguir.
Não sem ele porque ele era raiz mas além do caminho com ele.
Até que um dia… fez sol.
Não lá fora, mas dentro.
Um sol tímido.
E nasceu nos lábios um vermelho vivo.
Nos cabelos, a revolução de uma nova roupa.
Não para esconder, mas para marcar a mudança que a dor também faz.
Por dentro, por fora.
E fez dela, mais ela.
Uma nova ela, com ele absorvido no que ela é.
Nova.
Mas ainda a mesma.
Porque a dor deixa marcas que nunca somem totalmente.

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