No meio da noite, ela escuta vozes de um passado recente. Em transe, não sabe se é sonho ou realidade.
Às vezes, sente lágrimas escorrerem enquanto o corpo permanece paralisado. Não é possível contê-las, apenas senti-las.
Do outro lado da rua, as vozes parecem vir de dentro. De um lugar intacto dentro dela, onde sonho, realidade, desejo e imaginação se misturam.
Então percebe: não é sonho. Nem é real. É apenas o passado atravessando, como um fantasma, as paredes do quarto. Longe demais para tocar, perto demais para esquecer.
As palavras chegam confusas, como ecos.
Ele fala no meio da noite, ela escuta no dentro do sonho.
Desperta, infeliz. Porque não consegue esquecer. Nem consegue seguir.
A paralisia que a domina não é do sono. É da vida.