28 Jun
28Jun

Foi durante uma viagem que descobri algo sobre mim. Algo que sempre esteve ali, mas que eu não sabia nomear.
Olhando pela janela, vendo a neblina se deitar sobre o campo, meu coração se encheu de um sentimento sem nome e meus olhos, de lágrimas.
Há algo na paisagem fora de mim que se conecta com o que há dentro. Não sei explicar o que… nem como.
O que vejo é símbolo de algo que trago em mim. Talvez de um tempo sem palavras, onde os nomes ainda não existiam e o mundo era sentido em vez de falado.
Esse tempo ancestral ainda vive aqui, escondido entre sensações e sentimentos, talvez desorganizados.
Lembro da vez em que fui tomada de surpresa por uma paisagem perto de Chamonix, na França. À beira da estrada, havia um lago cristalino, cercado por árvores, onde se juntavam as águas do degelo. Uma imagem completamente nova, indizível. Meus olhos se encantaram. Meu coração se preencheu de um sentimento raro, que hoje chamo de plenitude.
Outro momento assim foi ao virar uma esquina em Florença e me deparar com o Duomo.
Lembro exatamente da consciência de, pela primeira vez, não pensar em nada. Um branco. Um susto. Um hiato no tempo. Como num filme: tudo parou. 
A presença era total. 
"Que coisa absurdamente linda." Foi o que consegui dizer a mim mesma depois da suspensão.
Por dentro, tudo foi inundado por essa sensação.
Isso também me acontece com pessoas. Às vezes, estou tão absurdamente presente, que vejo nelas pequenos milagres: um gesto, um olhar, um sorriso.
Vejo estrelas, sois, flores... e sinto coisas gigantes diante de gestos banais, como soprar a fumaça de um cigarro ou simplesmente ficar em pé.
São cenas que atravessam e tocam algo em mim, sem nome.
Talvez ressoem algo dos sonhos antigos.
Mas sempre é isso: a intersecção entre o fora e o dentro, costurando uma narrativa só.
Estamos em tudo.
Somos um.
O tempo todo.

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