20 Jun
20Jun

Quem olha pra ela não sabe.
Atrás da calma, há um redemoinho de emoções intensas que ela está aprendendo a domar
chamando pelo nome, deixando que se expressem, ou elaborando em palavras.
Por trás dos olhos doces, existe alguém que encara o horror da vida de olhos bem abertos,
sem desviar.
E por isso, não se rebela nem se encanta demais.
Porque vê, com atenção, o que há além da superfície.
E por ver assim, tão de perto, é capaz de amar absurdamente o real 
limitado, imperfeito, limitante.
Às vezes, a ponto de permanecer tempo demais na dor de acompanhar o outro
na sua estrada dolorida, de mãos dadas.
Até entender que estar ao lado no caminho do outro não é salvação.
Nem dela, nem dele.
Ela teme a morte.
Principalmente a simbólica
a que mata sonhos e faz a gente morrer ainda em vida.
Mas teme também a outra.
Não por si, exatamente,
mas por deixar órfãos os filhos cedo demais.
Carrega na pele as marcas dos afetos que a atravessaram.
Lembranças tatuadas do que desejou ter por mais tempo.
Às vezes, tudo o que resta é o símbolo 
que encera ou apazigua.
Se olhar bem, nem dá pra perceber:
a inquietação com o tempo, os descompassos,
a dor de nunca alcançar a plenitude das coisas.
A dúvida constante sobre o que sente, pensa, vive.
Se olhar bem, nem dá pra notar
que a teimosia esconde a certeza mais honesta que ela tem:
a de que ainda está aprendendo.
Sobre si mesma.

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