17 Jul
17Jul

Alguns fins não têm data. Não chegam com ponto final nem com palavras definitivas. Às vezes, são apenas pausas longas demais. Sumiços que ninguém nomeia. Silêncios que vão crescendo devagar até ocuparem tudo. E o que não termina direito, volta. Volta em ciclos, reencenado em lembranças soltas, em vontades que ainda insistem, em gestos que a gente revive sem querer.
Esses fins doem de um jeito estranho. Não têm explosão, nem briga. Têm vazio. Um desaparecimento lento, que deixa perguntas no ar e partes da gente esperando por respostas que talvez nunca venham. E, mesmo sabendo disso, o coração demora a aceitar o que a realidade já tentou mostrar tantas vezes.
Alguns ciclos não se encerram porque ainda há uma fresta de esperança. Uma parte nossa que acredita que talvez, em algum momento, a pessoa volte. Que diga o que não disse. Que conserte o que quebrou. Que fique. Mas o tempo passa e a ausência continua ali, preenchendo os dias.
Enquanto isso, a vida vai seguindo. A gente levanta, trabalha, cuida das coisas. Mas por dentro, repete o mesmo roteiro. Entre uma tarefa e outra, entre um café e a louça pra lavar, a saudade volta. A idealização se impõe. E a história recomeça mesmo sem a presença do outro.
Essa foi uma das minhas semanas. Ou talvez todas elas. Porque quando o fim não é claro, o recomeço também não é. E a gente segue vivendo nesse intervalo: entre o que não foi dito, o que ainda dói e aquilo que, no fundo, a gente sabe mas custa aceitar.

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Na segunda, eu lembrei de você. 
Não sei bem o que foi. Talvez, entre o café e a louça pra lavar, eu tenha me detido por um momento em alguma música que estava tocando. Pensei em como tudo se esvaiu. Numa história que ficou sem sentido. ⠀

Na terça, eu vacilei feio. 
As palavras duras, a forma como você falou, como eu me senti diante de tudo... Veio com força. Deixei as lágrimas caírem. E a saudade deu lugar a uma raiva legítima. Não que eu achasse que você deveria ficar, mesmo que eu quisesse, mas talvez partir de outro jeito... ⠀

Na quarta, eu quis inventar novos finais. 
Acho que foi uma tentativa ingênua de não enxergar as coisas como elas são. Às vezes eu faço isso, e não é por mal. É que eu teimo em acreditar que é possível reescrever. Refazer. Reparar. Porque não se trata apenas dos erros que cometemos, todos erram. É sobre o que fazemos depois que o erro acontece. ⠀

Na quinta, acordei pensando em como é louco ver o tempo passando e eu aqui, ainda querendo algo que você não quis. 
E nem era sobre sermos um casal. Era só sobre termos espaço na vida um do outro. Sobre as conversas, os momentos bons, as conexões sinceras. Coisas que você escolheu encerrar. Muitas vezes, inclusive. ⠀ 

Na sexta, eu parei de inventar. 
Olhei pra vida como ela é, e doeu. Doeram os silêncios, os sumiços, doeram as palavras que você escolheu pra me entregar. Doeu a espera. E doeram também as coisas que eu inventei enquanto o tempo passava. ⠀

No sábado, eu desisti. 
E nem sei se desisti de você, de mim ou de tentar acreditar em algo. Só chorei baixinho enquanto o café esfriava em cima da mesa e as coisas perdiam a cor. Coloquei um filme qualquer na TV, só pra distrair o silencio. Tentei lembrar de respirar. E isso foi uma vitória tremenda. ⠀

No domingo, eu não levantei da cama. 
Fiquei ali, olhando pro teto, vendo a luz da manha entrar fraca pela janela. Não era mais um dia... Era só um dia a mais para atravessar com mil coisas por dentro: dúvida, tristeza, raiva, resignação. 

E, no fundo, uma esperança pequena, ingênua, infantil. Uma abertura pra que, ali na frente, algo me surpreenda. Ainda que eu nem saiba mais o quê.

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