Então, temos medo.
É um fato.
Medo do que sentimos.
Medo de que o que sentimos seja demais.
Que transborde. Que escape das mãos. Que nos engula.
E tememos o pior:
Que seja demais para o outro.
Viver esse medo, calado, contido, feito repressa prestes a romper, é um fardo.
Grande. Grave. Silenciosamente destrutivo.
Não faz sentido sentir e não poder expressar.
Quando o afeto fica preso, ele adoece.
Reprimido, represado, ele deixa de ser ponte e vira prisão.
Pior ainda quando nos paralisa.
O medo de sentir. O medo de expor.
O medo de parecer ridículo.
De ser ridículo.
Quando, na verdade, o mais ridículo é não caminhar em direção ao que nos dá sentido.
Fugir do que se sente não protege.
Isola.
Nos transforma em exilados do próprio coração.
E essa solidão, não compartilhada, machuca.
Corrói.
E impede, aos poucos, a possibilidade de qualquer construção real entre dois.
Sentir exige coragem.
Mas não qualquer coragem
é uma que nasce da aceitação.
Não da perfeição, mas do real.
É a coragem de estar diante do outro,
e do que nele também falta.
Coragem de permanecer, mesmo quando o sentir do outro
não acolhe o nosso,
mas o interrompe, o nega, ou simplesmente não sabe o que fazer com ele.
Recusar-se a expressar o que se sente é manter o sentimento infantilizado,
preso num espaço que julgamos seguro.
Mas o sentimento amadurece só quando é ofertado.
Ainda que vacilante, ainda que sem garantias,
ele precisa ser colocado no mundo.
Mante-lo represado é conter a chance de crescimento,
um crescimento que talvez doa,
mas que ensina o mais importante
caminhar pelo mundo com o coração exposto,
ainda que sem certezas,
mas com verdade.