04 Sep
04Sep

Então, temos medo.

É um fato.

Medo do que sentimos.

Medo de que o que sentimos seja demais.

Que transborde. Que escape das mãos. Que nos engula.

E tememos o pior: 

Que seja demais para o outro.

Viver esse medo, calado, contido, feito repressa prestes a romper, é um fardo.

Grande. Grave. Silenciosamente destrutivo.

Não faz sentido sentir e não poder expressar.

Quando o afeto fica preso, ele adoece.

Reprimido, represado, ele deixa de ser ponte e vira prisão.

Pior ainda quando nos paralisa.

O medo de sentir. O medo de expor.

O medo de parecer ridículo.

De ser ridículo.

Quando, na verdade, o mais ridículo é não caminhar em direção ao que nos dá sentido.

Fugir do que se sente não protege.

Isola.

Nos transforma em exilados do próprio coração.

E essa solidão, não compartilhada, machuca.

Corrói.

E impede, aos poucos, a possibilidade de qualquer construção real entre dois.

Sentir exige coragem.

Mas não qualquer coragem

é uma que nasce da aceitação.

Não da perfeição, mas do real.

É a coragem de estar diante do outro,

e do que nele também falta.

Coragem de permanecer, mesmo quando o sentir do outro

não acolhe o nosso,

mas o interrompe, o nega, ou simplesmente não sabe o que fazer com ele.

Recusar-se a expressar o que se sente é manter o sentimento infantilizado,

preso num espaço que julgamos seguro.

Mas o sentimento amadurece só quando é ofertado.

Ainda que vacilante, ainda que sem garantias,

ele precisa ser colocado no mundo.

Mante-lo represado é conter a chance de crescimento,

um crescimento que talvez doa,

mas que ensina o mais importante

caminhar pelo mundo com o coração exposto,

ainda que sem certezas,

mas com verdade.

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