Tem uma coisa que eu aprendi a fazer muito bem: ficar.
Ficar nos lugares que doem, nos silêncios que ninguém suporta, nas emoções que muitos abandonam ao primeiro sinal de incômodo. Eu fico na raiva, fico na dor, fico no desconforto. Não porque não saiba a saída. Não por desconhecer a leveza de ir embora. Mas porque, às vezes, ficar é um gesto de amor.
É dizer: “Eu tô aqui no seu pior. Tô aqui quando tudo tá feio, quando você nem se reconhece, quando nem sabe o que fazer com tanta sombra.”
Ficar é um jeito silencioso de amar. E é também um jeito bonito de enxergar além.Eu fico por esperança e não por ingenuidade.
Fico porque acredito que, por trás da dor, há luz.
Por trás da raiva, há um pedido abafado por acolhimento.
Por trás da imperfeição, há beleza. E essa beleza tem nome: wabi-sabi.
Um conceito japonês que nos ensina a enxergar o belo justamente no que é imperfeito, impermanente, incompleto. A trinca no vaso de cerâmica. A folha seca no outono. O sorriso torto no meio do choro. O gesto atrapalhado de quem tenta, mesmo sem saber como.
Ficar é isso: escolher ver o todo, mesmo quando o todo está trincado.
A perfeição, essa exigência cruel, é que é um conceito irreal.
A vida de verdade é cheia de falhas, de frases ditas na hora errada, de dias em que a gente só consegue oferecer a nossa presença cansada.
É cansativo demais performar perfeição: inteligência demais, polidez demais, a pose bonita todos os dias.
Mas é na verdade do imperfeito que o bonito acontece.
Na autenticidade.
Na coragem de ser quem se é mesmo diante do outro.
Ficar, então, é mais do que teimosia.
É uma forma de dizer: eu não vou embora porque você não está no seu melhor.
Eu fico porque sei que você é muito mais do que o seu pior.
(...mas muitos dirão que é só porque eu tenho sol na casa 4, em touro)