27 Jul
27Jul

Lacan dizia que a única ética possível é a de não ceder sobre o próprio desejo.
É se reconhecer naquilo que pulsa dentro, sem negociar com o medo, sem se moldar para caber no vazio do outro.
Ser íntegro, nesse sentido, é não abandonar a própria natureza.
É sustentar o que se sente com coragem, mesmo quando o mundo inteiro ensina o contrário.
Mesmo quando nos treinaram a calar, a suavizar, a esperar menos, a sermos metades educadas em nome de um amor que nunca nos viu por inteiro.
Este texto nasce do desejo de não me trair mais. De não desistir de mim para ser escolhida. De não me esconder para parecer leve. De não ceder, nem um pouco, sobre o que me faz viva e autêntica.

......

Eu vou chegar descalça, dessa vez.
Despida das coisas que um dia me disseram sobre o que eu deveria esperar de mim mesma ou do amor.
Vou chegar com a curiosidade de uma criança, olhando com olhos brilhantes o nascimento do outro diante de mim.
E talvez me espante, com sinceridade, quando dali surgirem estrelas cadentes.
E, diante disso, quero, sem pudor algum, fazer pedidos inteiros, com a imaginação mais pura que houver em mim.
Estarei entregue à novidade que serei pra mim. Porque o medo que me foi ensinado (do abandono, do que o outro pode pensar do meu sentir intenso, da minha coragem diante do que sinto, da minha honestidade clara) não me vencerá, dessa vez.
E, estranhamente, estarei em paz. Estarei segura, mesmo que o outro não me ofereça chão... Porque agora eu sei como construí-lo para mim mesma. Até mesmo para ir embora de onde me machucar (mesmo que doa partir).
Hoje, depois de muito tempo (e décadas de terapia), eu sei: ninguém é mais importante do que eu.
E que se eu não puder ser quem sou, com meu sentir e meu pensar, ao lado de alguém, então serei comigo mesma, longe dali.
Dessa vez, não quero mais ouvir silêncios que gritam. Nem palavras que me calam.
Quero colo.
Quero conforto.
Quero alguém que fique.
Alguém inteiro para a minha inteireza.
Que, como eu, venha vazio de certezas e mais disposto a desaprender os limites que nos foram ensinados.
Alguém que chore e sinta sem medo.
Que silencie, sim, se precisar, mas que também saiba que não precisa criar muros… Porque não será invadido. Será respeitado.
Eu estou nua, dessa vez. Mas é uma nudez mais verdadeira: a que me deixa pronta pra ser vista.
Porque estou confortável em mim. Mais eu.

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