24 Apr
24Apr

Há dias em que sentir demais me desalinha do mundo. Em que as palavras pesam, entalam, não saem, ou quando saem, não dizem tudo. Nesses momentos, a poesia me encontra. Não como resposta, mas como abrigo. Como bem disse Lacan, “todo uso da linguagem se desloca na metáfora”, e é nesse deslocamento que eu respiro. A metáfora me permite existir quando a realidade parece demais. A poesia acolhe o que eu não sei dizer diretamente; traduz minhas emoções sem me cobrar explicações. Ela me salva de mim mesma, das armadilhas que crio, dos silêncios que aprendi a carregar. Me recolhe quando estou em pedaços e me devolve a mim, mesmo que em fragmentos. Porque, no fundo, é ali, na entrelinha do que escrevo, que ainda insisto em ser vista.

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a poesia me salva 
de mim mesma,
 dos medos que crio,
do escuro nos olhos 
de quem escolhe 
não me ver. 

a poesia me salva 
da raiva disfarçada 
de sinceridade crua. 
me devolve pra mim 
quando sinto demais 
e o peito não comporta. 

a poesia me acolhe 
quando o grito 
não pode sair, 
porque aprendi a ser 
boa demais, 
educada demais, 
polida demais. 

ela me ampara 
nos dias cinzas 
com cara de sol, 
na alegria ensaiada 
e no choro escondido. 

a poesia me salva 
quando alguém me lê 
e me enxerga nas entrelinhas 
do que não digo. 
naquilo que só ela sabe: 
que, às vezes, 
eu só preciso 
ser salva de mim.

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